Falar de leitura é algo bastante desafiador e, nesta coluna, selecionei algo pouco discutido, mas que já está em pauta desde os anos 2000 nos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio das Organizações das Nações Unidas: Objetivo nº 3 – Promover a igualdade entre sexos e a autonomia das mulheres.
Você sabia que a população brasileira é 51% constituída por mulheres? (IBGE, 2019). Sim, nós não somos a minoria!
As mulheres também superaram os homens em termos de escolaridade, são a maioria que concluem um curso superior com idade até 25 anos (IBGE, 2016), mas este fato precisa de uma lupa antes de ser comemorado.
As mulheres chegam ao mundo de trabalho com alta escolaridade e capacidade técnica, no entanto, segundo o IBGE, elas ainda são responsáveis por 24h semanais de serviço doméstico não remunerado, enquanto os homens, 10h semanais. Tal realidade nos leva a pensar que tais fatores contribuem para que elas tenham mais dificuldades em construir carreiras mais sólidas e crescentes.
A desigualdade entre sexos ainda é reflexo de estruturas sociais que tendem a sobrecarregar as mulheres e também reflexo de uma sociedade patriarcal que supervaloriza homens e coloca a mulher em situações de inferioridade. Além disso, somos minoria nos espaços decisórios, ocupando poucos cargos políticos, bem como em cargos de reitoria nas Universidades públicas e Institutos Federais de Educação.
Há uma barreira invisível e simbólica, nas falas e nas “brincadeiras” que minimizam a mulher. Quem nunca ouviu uma piada de que mulher não sabe dirigir? Ou de que mulher não sabe matemática? Ou em uma reunião de trabalho, a ideia e a voz da mulher são silenciadas?
Uma pesquisa realizada pela assistente social Tânia Incerti (2017) mostra o cenário de uma sociedade que ainda massacra as mulheres no seu cotidiano: “Você é menina, não pode jogar basquete!” ; “Mecânica não é curso para mulher”. Enfim, eu poderia usar todo este espaço para listar como o machismo é tão presente no cotidiano de pessoas de diversas classes sociais e como ele afeta a educação das meninas.
Essa breve conversa chegou até aqui para dizer ainda que as mulheres são minoria nas Ciências Exatas e isso não é apenas “escolha” de cada mulher. Este fato é oriunda uma construção na educação das meninas, que são conduzidas por brincadeiras de cuidados com bonecas e brincadeiras de casinhas. Longe de dizer que isso está certo ou errado, mas é frutífero para afirmar que podemos encorajar brincadeiras de astronautas, cientistas, engenheiras, mecânicas, elas podem brincar de pilotar aviões, e demais brincadeiras que ainda são mais direcionadas aos meninos.
E que tal presentear uma criança com livros em que meninas são protagonistas, atletas, cientistas, engenheiras, que podem tomar decisões, sem precisar de um príncipe encantado para salvá-las?
Aqui, neste espaço, deixo o convite para pensar sobre como estamos educando as crianças e sobre como podemos encorajar meninas e mulheres por meio da leitura. É um ato de coragem. Coragem para olhar para nós mesmas e entender que é preciso mudar e agir se quisermos contribuir com uma sociedade com menos desigualdade entre os gêneros e mais humanidade.
Aqui deixo dicas de livros para encorajar todas as crianças a despertar para a visibilidade de meninas:
Menina bonita do laço de fita (Ana Maria Machado)
A baleia que queria ser sereia (Camila Angelis)
Malala: a menina que queria ir para a escola ( Adriana Carranca Corrêa)
A menina das estrelas (Itaú – Leia para uma criança)
Flora (Bartolomeu Campos de Queiroz)
Já leu algum desses? Gostou!?
Poderia indicar mais algum pra gente?
Vanessa Tavares
Pedagoga e Mestra em Educação, escritora de livros infantis
@escritoravanessatavares
Referências:
BURIGO. Joanna. A luta pela equidade de gênero. TEDXlançador, 2018.
IBGE. Indicadores sociais das mulheres no Brasil | Educa | Jovens – IBGE.
INCERTI, Tânia Gracieli Vega. Brincadeiras persistentes, desigualdades de gênero presentes: relações de gênero na educação profissional, uma análise a partir da percepção de estudantes do IFPR Campus Curitiba, 2017.
STANISCUASKI, Fernanda. et al. O impacto de gênero, raça e paternidade na produtividade acadêmica durante a pandemia de COVID-19: da pesquisa à ação. Fronteiras em Psicologia, v. 12, p. 1-10, 2021.