Depois de um percurso intenso pela arquitetura, senti que poderia contribuir com a sociedade de uma nova forma, e mais alinhada com meu novo propósito de vida.
A maternidade me trouxe um novo olhar para as crianças, para os seus instintos, para os seus anseios e seus direitos e, assim, surgiu uma vontade grande de trabalhar para elas, de forma que eu pudesse de alguma maneira contribuir para o seu crescimento.
Eu tive o privilégio de ter passado uma infância rica de brincadeiras, com muito contato com outras crianças e com muita atenção dos pais. E percebo que, cada vez mais, a sociedade tende a um caminho de individualismo, de falta de comunicação e de interação social, facilitados pelo acesso aos recursos vindos com as telas, tanto pelas crianças quanto pelos pais ou cuidadores.
Essa situação ficou evidente uma vez que as minhas filhas receberam uns amiguinhos, animadas com a primeira “festa do pijama” que fariam em nossa casa. A festa teria sido ótima, se não fosse o desgaste constante com os pedidos para saírem de frente das telas. As meninas, que não estavam acostumadas a pegar o controle da TV e ligá-la quando bem entendessem, foram introduzidas a esse novo comportamento, achando graça quando saíam escondidas com os amigos para “fazer coisa errada”. A dificuldade que tinham para se concentrar nas brincadeiras me chocou bastante. Eles ficavam ansiosos para pegar um tablet ou voltar para a frente da TV. Aquele foi um final de semana de muita reflexão e que me fez ter vontade de estudar e explorar o tema, quando surgiram, assim, as primeiras ideias para o livro Hora de Brincar, recém publicado pela editora ArchBooks.
E nessa nova trajetória tive o grande prazer de entrar em uma nova área, estudando técnicas de escrita e de literatura, e tendo contato com um grande número de livros de literatura infantil. E, com o olhar atento a todos os detalhes, próprio da arquitetura, me organizei também para um projeto maior, atuando como coordenadora editorial da ArchBooks, buscando sempre a melhor versão do leitor com histórias que venham a trazer uma fagulha de inquietação às crianças.
Hora de Brincar surgiu, então, da vontade de inspirar as crianças com ideias e valores que viessem impactar positivamente a vida dos pequenos e de suas famílias.
O livro é direcionado a crianças na faixa de 2 a 10 anos de idade, e busca apresentar, de forma sutil e divertida, a ideia de que a criança perde muito ao ficar horas em frente às telas.
Um bom livro de literatura infantil tem muito a nos ensinar e a nos inspirar. Ele nos ajuda a aumentar o vocabulário, a trabalhar a memória, e, também serve de ferramenta para o diálogo para trabalharmos com as crianças questões complexas do nosso dia-a-dia. E quando experimentamos a perspectiva de outros seres, estimulamos também a empatia.
Através da literatura, conhecemos outras culturas, aprendemos mais sobre o comportamento humano, e entendemos melhor a realidade ao nosso redor.
E, finalmente, o livro de literatura infantil é também uma riquíssima obra de arte, onde texto e ilustração se unem, depois de um longo percurso de revisões e edições, para trazerem consigo uma nova ideia, uma nova fagulha de inquietação aos pequenos e grandes leitores.
Texto: escritora Vivian Millarch