Casa, lugar de brincar

Em qualquer brincadeira o material principal é a imaginação e como sabemos a importância do lúdico na formação da criança “bora” usar nossa casa e dar asas a ela.

Podemos ser princesas em castelos feitos de almofadas ou guerreiras na floresta que fica depois do sofá, quem sabe até um dinossauro na grama do quintal, nunca deixei de imaginar meus reinos ou batalhas. Quando pequena incentivada pelos mais velhos, criei meus mundos e tive vários cumplices, um deles foi o meu avô paterno, que alimentou todas as minhas fantasias – acho que devo a ele muito do meu lado criativo. Abuse da sua criatividade e brinque com suas crianças, alimente o mundo de fantasia delas, seja criança junto, a sua casa pode ter tudo que você precisa para isto.

Este texto foi motivado por um post que fiz no meu Instagram onde apresentei umas cabanas feitas de lençol, pregadores de roupa e muita imaginação a partir da inspiração da IKEA.

Como arquiteta digo que se você tem crianças o projeto da casa pode ser favorável e que se você se dispuser a entrar no mundo de fantasia, tudo vira brincadeira, embarque nesta e boa viagem.

Duas cadeiras e uma toalha de mesa viram um castelo, almofadas e uma colcha podem ser a sua caverna em um acampamento, com o seu abajur poderão ser projetadas sombras na parede e uma história passa a ser contada, fazer bolo ou montar um sanduiche pode ser a abertura para o universo gastronômico, tudo na casa é alimento para o mundo fantástico da imaginação.

Ao projetar os espaços quando tem crianças habitando tomo muitos cuidados para deixá-los à vontade. São cuidados como usar menos objetos e não escolher os que são pequenos e frágeis para o adereçamento, coloco os adereços no alto. Escolho tecidos mais tecnológicos e resistentes, revisto paredes estrategicamente, escolho mesas preferencialmente com 4 pés para evitar quinas, nunca uso cadeiras de 3 pernas, sempre projeto um banquinho que fica sob o armário do banheiro para que os pequenos alcancem a pia e o  espelho ganha uma leve inclinação, as estantes e móveis altos são parafusados na parede, planejo bem o local para se guardar os brinquedos, os livros estão sempre a uma altura fácil de se alcançar, os pisos especificados são confortáveis às brincadeiras no chão, as cortinas são de manuseio simples, também procuro deixar mais espaço livre por todo lugar e as plantas na sua maioria são comestíveis e nunca tóxicas.

Por falar em plantas me recordo de ir montar um jardim com vasos em uma cliente, foi assim – tira vaso, planta uma coisa, arruma outra e nisto chega o pai que tinha ido buscar a criança na escola, o menino com cerca de 3 para 4 anos, deixou a mochila e ficou observando, rondando quando a mãe chega do trabalho, neste momento tudo estava pronto, sentamos para admirar e lá vem o menino com uma pergunta: “ mamãe você viu minha floresta que ela fez”? Nós entramos na fantasia dele, começamos a cheirar as ervas aromáticas do vaso que estava sobre a mesa e a descobrir que ervas eram aquelas, pronto através de um jardim se construiu um conhecimento.

Eu me emociono quando vejo pais que trabalham isto em uma criança, o aprendizado que eu chamo de “emocional”.

Vez ou outra, meu marido me pergunta como você sabe isto? E eu repondo – sabendo! Cheguei à conclusão que são os saberes adquiridos ao brincar, são as coisas que eu aprendi por emoção. Emoção de experimentar com os mais velhos, de participar com eles do mundo adulto em forma de brincadeira.

Eu sou da cidade, gosto da cidade, me identifico com a cidade, mas tive avós que moravam em sítio e nas brincadeiras durante as férias muito prendi de uma vivência que nem de perto faz parte do meu dia a dia, tipo debulhar o milho, moer a canjiquinha, dar comida às galinhas e ver minha avó louca, pois nossa brincadeira acabou com o milho da semana, a beber água da bica em folha de inhame, a construir encanamentos de bambu e entender que a água chega por gravidade ou a desviar o curso do córrego para ter água encanada na bica e fazer “cozinhadinho”, até como se tira o leite da vaca. Também aprendi a costurar e a cortar as roupas das minhas bonecas (isto foi com a minha mãe que me colocava ao lado dela quando estava trabalhando e me dava retalhos para brincar), o nome de uma planta,  a dobrar a toalha que usei para a minha cabaninha, a empilhar livros e fazer fortes para as bonecas ou a mergulhar os bonecos do meu irmão, de escafandro e tudo, na caixa d’água de casa – desta forma aprendi como funciona a bomba, a boia e que a caixa d’água tem que ser limpa de tempos em tempos, pois era nesta data que podíamos ir ao terraço e brincar, esconder trás do sofá ou da cortina e ser ali o meu escritório, a observar o sol que entra em algumas janelas em épocas específicas, a montar meus mundos em todos os cantos possíveis. Tudo, tudo mesmo vira brincadeira, até mesmo guardar as coisas quando termina a farra.

Fico feliz de ter entendido que a arquitetura faz parte deste mundo da imaginação e pode criar conceitos para a vida toda.

Não se esqueça que sua casa é lugar de brincar, então abuse e se lambuze com seus pequenos.

                                                                      Aparecida Borges                                                                                                                          Arquiteta e Urbanista                                                   

(27) 98124 1718   @aparecidaborgesarquitetura e @studioparehborges

8 comentários em “Casa, lugar de brincar

  1. APARECIDA MARIA DA SILVA BORGES says:

    Foi um prazer poder dividir aqui um pouco do meu conhecimento. Renata a idealizadora da Vamos Brincar faz parte da minha vida a uma vida de mais de 30 anos. Nos identificamos em muito e quando preciso estamos perto. Obrigada pelo convite, pela oportunidade e parabéns pelo trabalho tão cheio de paixão.

    • renatasudre says:

      Obrigada Parê!Nossa graduação em arquitetura, e lá se vão bons anos, proporcionou um bom encontro. Seguimos juntas pela amizade, mas também pelo amor a arte em qualquer que seja sua forma de expressão. Muito bom ter você na Vamos brincar!

      • Marlei Bonella says:

        E isso mesmo!! Este texto trouxe recordações da minha infância Andei muito de bicicleta, tomei banho em represas, subi em árvores e comia goiaba ou degustava uma manga em cima do pé da fruta. E muitas outras brincadeiras, e até queimei uma vez meu cabelo fazendo cozinhadinho. Nossa!! Foram muitas experiências. Principalmente com meus cabelos.??? . Tenho um filho de 04 anos e deixo ele brincar a vontade. Outro dia ele fez uma cabana entre o sofá e umas cadeiras! Minha sala as vezes parece um parque de diversão. E eu deixo!! Lógico, com alguns cuidados e as vezes impondo limites. Mas fui criança e sei que um dia, vou sentir saudades daquela bagunça e brinquedos espalhados pela casa. Então, bora aproveitar.
        Parabéns Aparecida Borges pelo lindo texto

    • Marlei Bonella says:

      E isso mesmo!! Este texto trouxe recordações da minha infância Andei muito de bicicleta, tomei banho em represas, subi em árvores e comia goiaba ou degustava uma manga em cima do pé da fruta. E muitas outras brincadeiras, e até queimei uma vez meu cabelo fazendo cozinhadinho. Nossa!! Foram muitas experiências. Principalmente com meus cabelos.??? . Tenho um filho de 04 anos e deixo ele brincar a vontade. Outro dia ele fez uma cabana entre o sofá e umas cadeiras! Minha sala as vezes parece um parque de diversão. E eu deixo!! Lógico, com alguns cuidados e as vezes impondo limites. Mas fui criança e sei que um dia, vou sentir saudades daquela bagunça e brinquedos espalhados pela casa. Então, bora aproveitar.
      Parabéns Aparecida Borges pelo lindo texto

  2. Amanda Ferreira says:

    Que bacana! Tivemos essa oportunidade na infância, mas com a correria do dia-a-dia da nossa vida atual de tecnologias, acabamos por esquecer desse mundo mágico que é a diversão criativa…. Obrigada por nos lembrar! Partiu imaginação para diversão em casa 😀

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