O processo de ensino aprendizagem é constituído de várias etapas, e os processos metodológicos, de interação são grandes aliados para a criança. Falamos de um valioso recurso, o jogo! O jogo é um importante recurso, pois através dele percebemos que as crianças, e também adolescentes, dão o melhor de si, planejam, desenvolvem estratégias além de analisar e antecipar o passo do adversário. Observamos diversas demonstrações de comportamento e emoções como: lamentação, vibração, torcida, comentários, enfim, toda estimulação, e podemos dizer, nas três dimensões – cognitiva, social e afetiva.
O jogo para as crianças é um atrativo lúdico, conceito qual, em alguns momentos, ainda necessita de compreensão, no entanto, como um recurso metodológico e de interação social, indica que a sua prática é muito divertida para elas e contribui para uma inter-relação muito interessante entre os que participam. Como já dizia Piaget(1980) o lúdico faz parte da nossa vida desde o nascimento por meio de diferentes tipos de jogos. O de exercício (caracterizado pela repetição) e o simbólico (o faz de conta) estão muito presentes no cotidiano das crianças desde cedo, além do jogo de regras, que tem papel mais significativo conforme elas ficam maiores. O que nos traz a compreensão que a brincadeira permite a criança desenvolver potencialidades como a construção de conhecimento, valores, relações sociais, criação, sensibilidade, traduzindo o mundo para realidade infantil, o que leva a criança demonstrar a sua interpretação sobre ele.
Algo interessante a destacar é que, o jogo possibilita a criança construir a “resiliência”, valor muito importante no processo de construção da personalidade, isto porque, ela desenvolve autoconceitos positivos. Podemos retomar aqui o que diz a Declaração Universal do direito das Crianças – UNICEF, ao fomentar que a criança deve desfrutar plenamente de jogos e brincadeiras os quais deverão estar dirigidos para educação; a sociedade e as autoridades públicas se esforçarão para promover o exercício deste direito. Portanto, o jogo e a perspectiva lúdica caminham juntos no processo de formação da criança, sendo essenciais para a sua participação na sociedade a partir dos conhecimentos e habilidades desenvolvidos.
No processo de ensino aprendizagem, cabe ao professor fazer de uma atividade a prática de um jogo, trazendo os objetivos a serem alcançados nesta prática que envolve a criança, pois como já dizia Vigostski(2003), existem outras coisas com mamar, chupar chupeta, comer, dentre outras atividades que também proporcionam prazer a criança, na verdade, ele quer nos alertar que o jogo para ser desenvolvido precisa alcançar as necessidades da criança, ao contrário, lhe causará frustração. Este pensamento reflete as atitudes que devem ser apresentadas pela criança diante do jogo, sendo elas: a dedicação e o entusiasmo, que só são expressadas quando há familiarização da criança com o jogo pretendido.
O jogo para Piaget(1998) é essencial para a vida da criança. Inicialmente, o jogo é um exercício em que a criança repete uma determinada situação por puro prazer, por ter contemplado seus efeitos, mais tarde, em torno de 2-3, 5-6 anos percebe-se manifestações de jogos simbólicos por demonstrarem a satisfação da criança, não só uma mera repetição e sim a representação do que lhe traz prazer.
Para Vigotski(1984) o jogo é fundamental para a constituição do pensamento infantil. Para ele, é brincando, jogando, que a criança expõe seu estado cognitivo, visual, auditivo, tátil, motor, seu modo de aprender e entrar numa relação cognitiva com o mundo de eventos, pessoas, coisas e símbolos. Ele ainda diz que, se o sujeito se constitui nas relações com os outros, por meio de atividades caracteristicamente humanas, que são mediadas por ferramentas técnicas e semióticas, portanto, a brincadeira infantil assume uma posição privilegiada para a análise do processo de constituição do sujeito, rompendo com a visão tradicional de que ela é uma atividade natural de satisfação de instintos infantis.
Reforçando ainda, a brincadeira como uma maneira de expressão e apropriação do mundo das relações, das atividades e dos papéis dos adultos. A capacidade para imaginar, fazer planos, apropriar-se de novos conhecimentos surge, nas crianças, através do brincar. A criança por intermédio da brincadeira, das atividades lúdicas, atua, mesmo que simbolicamente, nas diferentes situações vividas pelo ser humano, reelaborando sentimentos, conhecimentos, significados e atitudes. Zanluchi (2005, p. 89) reafirma que “Quando brinca, a criança prepara-se a vida, pois é através de sua atividade lúdica que ela vai tendo contato com o mundo físico e social, bem como vai compreendendo como são e como funcionam as coisas.” Esta nada mais é, que a ideia fomentada no Referencial Curricular da Educação Infantil como também nos indicadores de Qualidade, o que nos assegura a prática lúdica em prol do desenvolvimento integral da criança e desta vivência também nas relações familiares.
É claro que, tal discussão nos remete a dizer que muitos educadores e pais, não vêem com bons olhos a perspectiva do jogo como ferramenta de qualidade no desenvolvimento da criança, se apegando em práticas normativas, ditadoras ou meramente conceituais (no que se trata do currículo escolar), esquecendo a importante valia do jogo para a criança na construção de significados. Compreendemos então a grande importância do brincar e a prática do jogo nas relações familiares e também escolares, no processo de ensino aprendizagem da criança, facilitando para a aprendizagem e o desenvolvimento integral nos aspectos físico, social, cultural, afetivo e cognitivo, sendo um grande parceiro na práxis do professor no que diz respeito a metodologia a ser aplicada na abordagem de um determinado conteúdo, para o pais, um aporte importante na educação dos valores e limites e também para desenvolvimento da autonomia, na ausência deles, quando falamos da auto atuação da criança na sociedade.
Laís Simeão
@lais_simeao
Psicopedagoga e Psicanalista
Especialista em Educação Inclusiva
Instituto Equilybrio
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